Unesco reconhece a capoeira como Patrimônio Cultural da Humanidade
Anúncio foi feito em Paris. Presidente do Iphan comemora reconhecimento.
Uma das manifestações artísticas mais tradicionais do Brasil passou nesta quarta-feira (26) a ser um bem mundial. A Unesco reconheceu a capoeira como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Ao som do berimbau, luta, dança e esporte se misturam. É a expressão de um povo. Mestres brasileiros já levaram o batuque e o gingado para mais de 100 países. Nesta quarta-feira (26), em Paris, a roda de capoeira passou a ser considerada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. O som do berimbau e dos atabaques era de festa.
“Nós estamos muito emocionados porque a capoeira, criada pelos escravos, proibida, interditada no Brasil por muitos anos, hoje é um patrimônio da humanidade, reconhecida pela Unesco e presente em vários países do mundo”, diz Jurema Machado, presidente do Iphan.
No estado com o maior percentual de negros do país, a capoeira tem um espaço só para ela. Em Salvador, um forte do século 17 hoje abriga escolas e exposições dedicadas a essa manifestação cultural. Para quem vive, respira capoeira, o reconhecimento da Unesco é a prova maior da força dessa tradição que resiste aos séculos sem perder as raízes e cada vez mais popular.
"Quanto mais houver reconhecimento para o capoeirista, para os mestres de capoeira, para a capoeira em si, é importante no sentido de ela se firmar”, afirma Marcos Grito, professor de capoeira.
Nas rodas de capoeira o sentimento vai além da euforia pelo prêmio simbólico. É também de superação do preconceito.
"Quando eu tinha 18 anos eu não pude entrar na capoeira porque minha mãe não queria capoeirista em casa. E hoje eu queria que ela estivesse viva para ter, para ver esse prazer que a gente está tendo hoje", conta Edilson de Jesus, mestre de capoeira.
PATRIMÔNIO CULTURAL:
Patrimônio cultural é o conjunto de todos o bens, materiais ou imateriais, que, pelo seu valor próprio, devam ser considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de um povo.
O património é a nossa herança do passado, com que vivemos hoje, e que passamos às gerações vindouras.
Do património cultural fazem parte bens imóveis tais como castelos, igrejas, casas, praças, conjuntos urbanos, e ainda locais dotados de expressivo valor para a história, a arqueologia, a paleontologia e a ciência em geral. Nos bens móveis incluem-se, por exemplo, pinturas, esculturas e artesanato. Nos bens imateriais considera-se a literatura, a música, o folclore, a linguagem e os costumes.
MACULELÊ:
É o maculelê uma dança de origem Afro-indígena, pois foi trazida pelos negros da África para cá e aqui foi mesclada com alguma coisa da cultura dos índios que aqui já viviam. Os africanos diziam que esta dança era mais uma forma de luta contra os horrores da escravidão e do cativeiro. Enquanto os negros dançavam com os cepos de cana no meio do canavial, cantavam músicas que evidenciavam o ódio. Porém, eles as cantavam nos dialetos que trouxeram da África para que os feitores não entendessem o sentido das palavras. Assim como a "brincadeira de Angola" camuflou a periculosidade dos movimentos da capoeira, a dança do maculelê também era uma maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança. Aos golpes e investidas dos feitores contra os negros, estes se defendiam com largas cruzadas de pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas dos feitores de acordo com o abaixar e levantar do negro com os porretes em punho. Além desta defesa, os negros pulavam de um lado pro outro dificultando o assédio do feitor. Para as lutas travadas durante o dia, os negros treinavam durante a noite nos terreiros das senzalas com paus em chama que retiravam das fogueiras, trazendo ainda mais perigo para o agressor. O maculelê pode ser feito com porretes de pau, facões ou facas, mas, alguns grupos praticam o maculelê com tochas de fogo ou "tições" retirados na hora de uma fogueira que também fica no meio da roda junto com os dançarinos. O maculelê é portanto, um bailado guerreiro que foi desenvolvido por homens negros, compreendendo dançadores e cantadores, todos comandados por um mestre, denominado “macota”. Os participantes usam um bastão de madeira com cerca de 60 cm de comprimento, exceto o macota, que tem um mais longo. Os bastões são batidos uns nos outros, em ritmo forte e compassado. Estas pancadas presidem toda a dança, funcionando como marcadoras do pulso musical.
PERCA 500 CALORIAS EM UMA AULA DE CAPOEIRA
Tipicamente brasileira, esta técnica é capaz de modelar o seu corpo!Ao som do berimbau, a capoeira faz o praticante perder 500 calorias em uma hora de aula. Se interessou? De acordo com os mestres da capoeira, a perda de calorias vai depender da intensidade que o praticante der aos movimentos. Dentre os exercícios estão a musculação e o alongamento, que ajudam a melhorar a flexibilidade do praticante. De acordo com o Mestre Boneco, esta arte/luta trabalha proporcionalmente toda a musculatura do corpo.
Entre os benefícios da prática da capoeira, estão: a diminuição da tensão, velocidade corporal, força muscular equilíbrio, ritmo, coordenação, lateralidade e modelar a musculatura do abdômen. Um aluno que pratica capoeira por três vezes na semana desenvolve uma melhora no sistema cardiorrespiratório.
Outro ponto importante da capoeira é a melhora da capacidade de resistência cardiovascular. A atividade pode interferir até mesmo no lado emocional da pessoa, tornando-a mais alegre e disposta para o dia-a-dia, e ainda tornar a musculatura do praticante mais alongada.
Se comparada a outros esportes como basquete e futebol e a exercícios aeróbicos, ela exige do praticante quase os mesmos recursos como agilidade, flexibilidade, força, ritmo, equilíbrio, velocidade, coordenação, resistência e outros.
Outro ponto da capoeira é benéfico para pessoas de todas as idades. Ela ajuda seu praticante a liberar a agressividade, ainda que não estimule a violência, ajudando-o a desenvolver o autocontrole e a criatividade.
Em junho será realizado, no Rio de Janeiro, o Fórum Internacional de Capoeira 2011. Organizado pelo capoeirista Beto Simas, mais conhecido como Mestre Boneco, alunos, professores e Mestres de diversos grupos de capoeira e de vários países, além de historiadores e autoridades esportivas, discutirão a evolução e uma possível inclusão da capoeira como esporte olímpico.
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