quinta-feira, 1 de novembro de 2007

MESTRE PASTINHA


Mestre Pastinha( 05/04/1889 a 13/11/1981).
“Capoeira Angola: mandinga de escravo em ânsia de liberdade. Seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista.”Vicente Ferreira Pastinha
Vicente Ferreira Pastinha- filho de um espanhol, José Señor Pastinha, e de Raimunda dos Santos, negra baiana de Santo Amaro da Purificação- nasceu em 05 de abril de 1889 e morreu em 13 de novembro de 1981. A sua inserção na capoeira se deu quando tinha 10 anos, e assim ele contava:
Quando eu tinha dez anos de idade, eu era um franzininho e um outro menino, mais taludo que eu, se tornou meu rival. Era só eu sair para a rua, ir fazer compras por exemplo, e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando sempre. Contava, ainda o outro menino, com o apoio de sua mãe, que o incentivava a bater mais. Ao voltar para casa, eu ainda apanhava pela segunda vez de madrinha, por conta da demora em trazer as compras ou por estar com a roupa rasgada. Então eu ia chorar de tristeza e vergonha.
Um dia da janela da rua de casa, um velho africano assistiu a briga da gente “Vem cá meu filho”, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. “Você não pode com ele, sabe. Ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando arraia, você vem pro meu cazuá que eu vou lhe ensinar coisa de mais valia.” Foi isso que o velho me disse e eu fui.
Ele arrastava os móveis da sala e deixava um espaço livre onde me ensinava a jogar capoeira. Todo dia, um pouco, e eu aprendi tudo. Ele costumava dizer:” Não o provoque, Vai botando, devagarinho, ele sabedor do que você sabe”
Um ano depois, encontrei o menino na rua. Ele, então, me perguntou: “Estava viajando, ou se escondendo de min?” Eu, então lhe respondi: “estava com medo”. A mãe do menino já se encontrava na porta, sorrindo, divertida, esperando o inicio do espetáculo, quando seu filho venceria novamente a batalha. Mas, para sua surpresa, aconteceu o contrário.
Assim que o menino levantou a mão para desferir a pancada, com um só golpe, mostrei-lhe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival. O menino ficou até meu amigo, de admiração e respeito. O velho africano se chamava Benedito.”
Muitos anos depois, em 1941, um ex-aluno do Mestre Pastinha, de nome Aberrê, convidou-o para acompanhá-lo ao bairro da Liberdade, na ladeira das Pedras. No Gengibeira, acontecia, todas as tardes de Domingo, uma grande roda de capoeira com os melhores da Bahia. Lá para tantas, no final da tarde, um dos grandes mestres presentes de nome Amorzinho, entregou a Capoeira Angola a Mestre Pastinha, para que ele tomasse a frente e colocasse em seu devido lugar.
Trajetória do Mestre
· Levou 8 anos na Marinha de Guerra, onde foi músico e instrutor de capoeira.· Foi jogador de futebol, chegando a treinar no Ypiranga, seu time de coração( de onde tirou as cores do uniforme do seu grupo: o amarelo e preto- as mesmas cores da nação angolana)· Foi engraxate· Vendedor de jornal· Praticou esgrima· Ajudou a construir o porto de Salvador· Foi alfaiate· Responsável pela segurança da Casa de Jogo· Fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, registrando-a em 1952, por onde passaram várias pessoas, buscando seus ensinamentos· Pastinha morreu cego, no Abrigo D. Pedro II - no bairro de Roma, Salvador - sozinho e na mais completa miséria, sem o reconhecimento pela sua contribuição em prol da cultura afrodescendente.
Obs.: Os manuscritos do Mestre Pastinha. O famoso "caderno-albo", onde Pastinha deixou sua poesia, desenhos, sabedoria e experiências de vida, é um calhamaço de 200 e poucas páginas - já amarelecidas pelo tempo. (foto de uma página acima)

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